10 agosto 2011

Após marcha estudantil pacífica e 'panelaço', governo chileno contabiliza quase 400 presos


O protesto dos estudantes realizado na terça-feira (09/08) no Chile, com forte repressão da polícia e a realização de "panelaço" noturno, deixou 396 presos e 78 feridos em todo o país, segundo o mais recente balanço divulgado nesta quarta-feira 10 pelo governo.

Milhares de pessoas fizeram um "panelaço" na noite de terça-feira em Santiago, onde alguns manifestantes montaram barricadas nas ruas, para apoiar o protesto estudantil que exige um melhor ensino público no Chile. O ''panelaço'' é o segundo realizado em menos de uma semana e retoma um protesto típico contra a então ditadura do general Augusto Pinochet.

A população foi às varandas e janelas de Santiago para bater panelas, atendendo ao apelo dos líderes estudantis chilenos, que há dois meses protestam para pedir o fortalecimento do ensino público no país. "Escutamos as panelas por todas as partes, tomara que o presidente escute e atenda nossas reivindicações", disse no Twitter Camila Vallejo, uma das principais dirigentes estudantis.

Em alguns bairros de Santiago, como Plaza Ñuñoa, centenas de pessoas foram às ruas e manifestantes levantaram barricadas em vários pontos do centro e da periferia da capital. Durante o dia, um protesto reuniu mais de 100 mil pessoas no centro de Santiago, degenerando em confrontos que deixaram 274 detidos e 23 policiais feridos.

Professora

Durante a manifestação, uma professora do Jardim de Infância protagonizou um momento marcante. Apesar do clima pesado, Malba Silva, que leciona no bairro de Puente Alto, um dos mais pobres da capital chilena, conseguiu evitar um enfrentamento entre estudantes e a polícia.

Na esquina da Avenida Huamachuco com a rua Nataniel Cox, no centro da cidade, um grupo de estudantes trocava insultos com policiais enfileirados, que lentamente se aproximavam dos manifestantes. Malba se colocou no meio da confusão e, visivelmente emocionada, apelou para que os estudantes seguissem seu trajeto. "Vocês estão mais próximos do que qualquer outro chileno já esteve de mudar a história deste país. Não podem desperdiçar isso em nome de uma briga inútil", gritou, aos prantos.

Seu pedido foi prontamente atendido pelos estudantes. Minutos depois, os jovens mais exaltados durante a discussão desistiram da briga e voltaram a caminhar pela rua Nataniel Cox, rumo ao Parque Almagro, onde terminaria a marcha.

Malba, ainda enxugando as lágrimas, conversou com o Opera Mundi e explicou sua atitude. "No meu bairro, a grande maioria dos jovens não pode terminar sequer os estudos primários porque os pais não têm condições de pagar a escola". A professora, de 46 anos, continuou o desabafo: "conheci muitas crianças maravilhosas que, quando cresceram, se tornaram delinquentes ou fracassaram como profissionais. Isso porque o país não é feito pra eles e o sistema educacional que temos é o principal responsável pela falta de oportunidades".

"Eu não posso mais aguentar ver mais crianças e me afeiçoar a elas, pensando que estão condenadas a um futuro terrível. Os estudantes hoje têm a oportunidade de dar aos meus pequenos a possibilidade de um futuro", afirmou. "Quero um futuro para as crianças com as quais trabalho. É tudo o que quero. Se preciso me colocar entre Deus e o diabo para que o país seja melhor para elas, estarei lá".

Fonte: Opera Mundi
Foto: Victor Farinelle/Opera Mundi

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