07 julho 2011

A multidão está nas ruas, sem líderes e liderados

O mundo mudou de uma forma tão impactante nas últimas décadas que não era mais compreensível que a política continuasse pautada pela lógica das relações verticais e organizações intermediárias.

O mundo mudou de uma forma tão impactante nas últimas décadas que não era mais compreensível que a política continuasse pautada pela lógica das relações verticais e organizações intermediárias.
O que aconteceu no mês de maio na Espanha é mais um capítulo dessa nova ordem – ou desordem. A era dos líderes e dos partidos que organizam as massas está em crise.
Isso tem a ver com uma série de fenômenos. Os dois maiores e que se complementam são o encolhimento do planeta a partir do processo da globalização e a reconfiguração das relações com os meios de comunicação por conta das novas tecnologias.
Por isso, a frase “os jovens saíram às ruas e subitamente todos os partidos envelheceram”, que um jovem exibia em um cartaz no primeiro dia das manifestações em Madri, não podia ter sido mais feliz.
Hoje, os partidos são analógicos, e a realidade é digital.
Os partidos ainda pensam em líderes que podem atrair milhares para as suas teses. Enquanto isso, as ações se constroem em rede. A partir do que, de forma muito feliz, o jornalista Luiz Carlos Azenha denominou no seu blogue (www.viomundo.com.br) de “coalizão de vontades”.
Este processo não precisa de líderes. Mais do que isso, rejeita líderes.
Por que isso acontece dessa forma? O momento é muito novo para análises mais complexas, mas é possível iniciar a reflexão.
Os que hoje têm 40, 50 anos ou mais, cresceram lendo jornais, assistindo TV e ouvindo rádio. Os meios de comunicação tinham emissor e receptor. Se organizavam na lógica do “um” para “muitos”.
A nova geração se comunica em redes. Todos são emissores, todos são receptores. Muitos falam com muitos.
É muito mais difícil para quem se comunica o tempo todo nesta lógica entender que nos momentos de executar sua atividade cidadã, a frequência será outra. E que ele vai ter de ficar esperando alguém para liderá-lo.
Por isso, nos protestos da Praça Tarhir, como você leu nesta Fórum, não havia um palanque onde os líderes se revezavam. Mas seis carros de som, onde quem quisesse falar poderia fazê-lo, desde que aceitasse entrar na fila sem qualquer privilégio.
Todos iguais. Todos na fila. Todos em rede. Todos iguais.
E o que vai surgir a partir desses movimentos se o que de alguma forma está em questionamento é a própria democracia representativa?
Difícil saber.
Na Espanha, no meio dos protestos, o PP, partido de direita, ganhou as eleições regionais de ponta a ponta no país. Na Itália, Berlusconi sofreu uma derrota impactante, perdendo até em Milão, sua principal base, para a centro-esquerda. Esses movimentos não têm relação alguma com as disputas eleitorais.
A luta contra o desemprego e a falta de perspectivas é o que move os jovens europeus. E neste campo eles não enxergam diferenças visíveis entre direita e esquerda. Como também percebem que a luta por uma internet livre não faz parte do programa de nenhum dos partidos tradicionais. Aliás, algo que também se repete no Brasil.
E se os jovens não percebem a diferença entre direita e esquerda, a culpa é dos jovens? Evidente que não. É dos partidos, principalmente os de esquerda, que têm olhado para esses movimentos com os olhos de ontem.
E que tornaram a militância política coisa de velhos.
Fonte: Por Revista Fórum

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